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Esse post hoje é uma carta pra Duda...
Meu amor,
Ontem estava lendo a Veja dessa semana, e, como sempre, nunca começo pelo começo. Odeio começar a ler revistas pela primeira página. Abri numa página qualquer e eis que me deparo com uma reportagem gigantesca sobre o sistema de cotas. Provavelmente, um dia, quando você ler este blog
Desde quando eu engravidei de você, a nossa maior preocupação foi com o tipo de educação que você teria. Existem inúmeras escolas, várias correntes, mas de uma coisa tínhamos certeza: a educação na escola tem que ser parecida com a que você tem em casa. Então, de nada adiantaria eu te colocar numa escola "naturalista", onde se aprende tricô, costura, culinária, se aqui em casa nós não seguimos a mesma linha. A nossa linha - minha e do seu pai- é mais na disciplina, um pouco mais "dura", vamos colocar desta forma. Hoje, as coisas são muito diferentes das da nossa época. O que acreditamos é que, se você for criada com mais disciplina, quando tiver que lidar com a liberdade, você mesma vai se impor muito mais limites...
Mas não é só isso...Queremos que você tenha a disciplina de estudar todos os dias, que você vá bem nas provas, que você passe no vestibular numa boa Universidade. Sabemos muito bem que isso não é tudo. Sabemos que se você optar por uma carreira no mundo corporativo por exemplo, eles vão querer de você muito mais do que uma boa faculdade. Vão querer uma pessoa proativa, criativa, que pense fora da caixa, que saiba liderar. Vão valorizar pessoas que não sejam resistentes a mudanças, que saibam se comunicar, que façam da faculdade um recurso para o trabalho, que tenham experiências de vida para compartilhar. E isso, vai depender não só da escola, mas também da sua personalidade. Vai depender também de como nós, seus pais, vamos conduzir sua educação. E vai depender também óbvio, das oportunidades que poderemos te dar: um intercâmbio, um trabalho voluntário, um curso de línguas.
E falando em Universidade, vem a questão das cotas. O que o governo está prestes a decidir é um verdadeiro "assassinato" às Universidades Públicas. Elas são a maior fonte de pesquisas, conhecimentos e descobertas científicas que temos. É de lá que saem novas idéias, curas para doenças, materiais inovadores para diversas áreas. O que este tal sistema de cotas quer, é que, metade das vagas dessas Universidades sejam destinadas a alunos de escolas públicas. O que eu quero que fique claro pra você minha filha, é que não estou falando de preconceito. Estou falando de um aluno egresso de uma escola pública, entrar numa faculdade de Odontologia por exemplo, encarar uma aula de Bioquímica e sair de lá mais perdido do que entrou. E aí, qual seria a solução? Nivelar por baixo? E daí? O que aconteceria com a formação dos alunos? Qual seria o nível de conhecimento que esses alunos teriam para ingressar no mercado de trabalho? E a meritocracia na seleção? Onde fica nessa história? Os alunos das escolas públicas, não tem problema para entrar nas Universidades Federais porque são pobres, negros, índios, brancos ou amarelos, mas sim, por causa um ensino pra lá de deficiente que recebem a vida escolar inteira...
A reforma tem que vir debaixo...Lá do ensino fundamental, eu diria até do infantil. É um absurdo, uma professora concursada do Estado, que dá aula para alfabetização, falar "menas vezes", "bocejar" ao invés de "bochechar", "guspir" ao invés de "cuspir". E são essas as professoras que ensinam os alunos a ler e escrever...Tem alguma coisa errada aí, não tem não?!
É realmente uma pena que uma escola que cobra R$ 1400,00 de mensalidade para educação infantil, tenha fila de espera de três anos para matricular uma criança. É a isso que temos que nos submeter, já que o governo não arca com suas responsabilidades... E Deus nos ajude a ter condições de pagar uma boa escola pra você, meu amor. Porque senão, o jeito vai ser você vai entrar nas cotas como descendente de índio ( já que seu tataravô era um...) para garantir a sua vaga na Universidade.
Te amo,
Mamãe.
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