É isso que faz valer a pena! |
Eu trabalhava em oito consultórios como prestadora de serviços, ou seja, atendendo os pacientes que os donos das clínicas encaminhavam. Todo o trabalho de captação de clientes, cobrança e contatos era feito
pelos proprietários. E a minha vida era muito, mas muito corrida: acordava às 4:30 da manhã para chegar à academia às 5:00, malhar até as 7:00 e começar a minha longa jornada de trabalho às 8:00. Como a maioria dos consultórios ficava na Zona Leste e eu morava no Brooklin, além de atender cerca de 12 horas por dia ainda enfrentava mais de uma hora de trânsito para voltar para casa. Essa era minha rotina de segunda a sexta.
Ao longo desses dez anos de formada, algumas pessoas me perguntaram se eu não tinha vontade de ter o meu próprio consultório, de colocar outros dentistas trabalhando para mim.Mas essa idéia não me fascinava. Eu ganhava tão bem da forma como trabalhava e via todos os problemas que os donos de clínicas enfrentavam...
A PEDRA DE TOQUE
Foi então que o Fabio entrou na minha vida. Sempre conversávamos sobre a loucura que era a minha rotina e ele sempre ponderava: se você quer ganhar mais, tem que ter outros dentistas trabalhando para você.Sua
capacidade produtiva vai acabar se esgotando e aí, o que você vai fazer? Confesso que no começo não dei muita bola para o que ele dizia porque, apesar de esgotada, no final de semana sempre conseguia me
recarregar. Mas, com o passar do tempo fomos conversando mais sobre o assunto e, além do principal que era o esgotamento da minha capacidade produtiva, o Fabio foi colocando outras questões:
- E se algum dos donos de clínica não me quisesse mais como colaboradora?
- Eu estava satisfeita com a perspectiva de trabalhar naquele ritmo o
resto da vida e ter aquela remuneração como teto salarial?
- E quando eu quisesse engravidar, será que conseguiria manter o mesmo
ritmo de trabalho?
- E quando chegasse a hora da aposentadoria, contaria só com as
reservas? Ou não pensava em fazer o dinheiro trabalhar por mim ?
NASCE O EMPREENDEDOR
Foi então que ele me propôs que montássemos uma clínica ou comprássemos uma já pronta. A proposta: ele seria o sócio investidor e se encarregaria da administração e eu faria a parte técnica de atendimento ao paciente e controle de funcionários. Desde que começamos a sonhar com isso, disse a ele que não queria ser gestora pois nunca havia sido treinada para essa função. Aliás, falha graveno currículo das faculdades de Odontologia...
Em dezembro de 2008 surgiu a oportunidade: compramos uma clínica já pronta, razoavelmente grande, próxima à Vila Matilde. Após o primeiro contato com a proprietária, apesar da precariedade dos documentos contábeis apresentados (como eu, ela era só dentista e não tinha nada de administradora...), resolvemos arriscar. Sabíamos que muitas coisas teriam que ser mudadas para que pudéssemos atingir nossos objetivos, pois na época a clínica não dava lucro, apenas empatava receita e despesa. Mas resolvemos tentar.
E foi assim que em janeiro de 2009 assumimos a .......... Vila Matilde -uma clínica que tinha duas funcionárias, seis dentistas prestadores de serviços, que era totalmente desorganizada, onde não se tinha idéia de quantos pacientes passavam por lá, de quantos efetivamente permaneciam na clínica, enfim, onde faltava muito para colocar a casa em ordem.
EMPREENDEDORISMO É TRABALHO + TRABALHO + TRABALHO
Nosso objetivo era transformar a clínica numa referência de bom atendimento, num lugar aconchegante onde as pessoas não se sentissem preteridas por fazerem parte de uma classe social mais simples e que pudessem receber um tratamento de qualidade e humanizado.
Para isso, a reforma tinha que partir de dentro para fora, dos funcionários para os pacientes. Começamos pelos dentistas: dos seis ficaram apenas dois que sabíamos ter o perfil que queríamos - além das qualidades pessoais, procuramos especialistas em cada área para que o atendimento pudesse ser o melhor possível. Para estimular os funcionários, implantamos o esquema da meritocracia: oferecemos bônus semestrais para aqueles que melhor atendessem os clientes, que agissem como se fizessem parte da empresa, vestindo de verdade a nossa camisa.
O primeiro ano não foi nada fácil. Se colocar uma casa em ordem é sempre difícil, no nosso caso foi um pouquinho mais. O Fabio, como administrador, nunca tinha visto odontologia na vida como campo de trabalho. Então, era complicado entender a complexidade de cada procedimento para poder calcular preços, por exemplo. Perdemos algumas noites de sono pensando em como captar pacientes, como
mantê-los lá dentro e só depois de muito quebrar a cabeça chegamos ao óbvio: o melhor caminho, o mais seguro, é a excelência no atendimento.
A ATUALIDADE
Hoje, quase três anos depois do atribulado início, conseguimos sair do receita = despesa; temos quatro funcionários e cinco dentistas colaboradores; oitenta por cento dos nossos pacientes vêm por indicação de clientes já atendidos; somos, efetivamente, uma referência no local onde nos encontramos. Claro, as preocupações são muito maiores agora. Enxergamos a ......... como um negócio, uma empresa que tem metas a serem batidas, objetivos a serem alcançados,mas sempre preservando o nosso valor inicial que é a excelência e a humanização do atendimento.
Ah! E eu, na "escolinha" do Fabio, observando, perguntando, aprendendo no dia a dia, imaginem, aprendi não só a fazer, como a gostar de administração! Hoje, além de dentista, sou a gestora da clínica. E aprendi também a administrar o meu tempo: atualmente trabalho mais, produzo mais, mas de forma mais racional, melhor organizada e, portanto, menos estressante.
Agora nesse finalzinho, estou muito, mas muito cansada, porque além de atender todos os pacientes e explicar a todos eles que sim, vou voltar a trabalhar, porque independente de qualquer coisa AMO o que faço, tenho que deixar tudo certo para que nada de errado aconteça durante a minha ausência "física". Então, tem sido extremamente desgastante... mas imaginem se eu ainda tivesse aquela rotina de uns anos atrás?! Jamais seria possível encaixar um filho nela...
Agradeço a Deus todos os dias por ter colocado o Fabio na minha vida, porque, além de meu parceiro no esporte, na vida social, meu melhor amigo, marido, pai da minha filha, ele foi a pessoa que me "possibilitou" estar tranquila para realizar o sonho de ser mãe, com a sua capacidade de "pensar fora da caixa".
Além disso, hoje, tenho uma pessoa maravilhosa na clínica, a Mayara, que é meu braço esquerdo, direito - rsrs- com quem tenho total confiança de deixar as coisas durante o tempo da minha licença.
Então, que venha a Duda, porque tenho certeza que ela está vindo no melhor momento das nossas vidas!