Antes de engravidar, eu sempre conversava com algumas amigas sobre a quarentena. Minha dúvida era pra que serviam 40 dias sem exercícios, descansando, sem sexo. O mais engraçado é que sempre falava para elas: “ Ah, na minha vez, não vai ter essa de quarentena! Primeiro, quero parto normal, segundo, que, pára, não deve ser tão difícil conciliar as coisas! Sempre fui acostumada a correr, daqui para ali, fazer tudo na maior agitação!”
E quem foi que disse que a partir do momento que você engravida você quer alguma coisa?! Você passa a ser levada pelas circunstâncias que a gravidez te impõe.
No começo, são os enjôos. Se você não os tem, perfeito! Mas se não tem enjôo, pode ter azia. Claro, azia. Aquela queimação que dá quando você bebe até água! Ah! Depois do terceiro mês passa!
O segundo trimestre é o melhor! Não tem enjôo, não tem azia e não tem barriga! Quase como se não estivesse grávida... Mas tem o inchaço.. Tem o sono – pelo menos comigo o sono apareceu nesta época – e algumas crises de choro e mau-humor que você não sabe de onde vem!
E o terceiro trimestre?! Ah!!! Este vem acompanhado da barriga, da falta de ar e de posição pra tudo, do desconforto com o próprio corpo. Mas vem com a expectativa do momento mais esperado: o nascimento. Você fica 9 meses se planejando para ter um parto normal, lê bastante sobre o assunto, conversa com o médico, tem a certeza que será daquela forma e que não precisará cumprir os famigerados 40 dias!!!
Mas claro, como não é você que escolhe, sua filha está sentada!! A sua bolsa estoura, você tem dilatação, mas não pode ter parto normal pela posição da nenên. E lá vai você, para a cesárea.
Momento mágico!! Nasce a nenê, você se encanta, se apaixona, no hospital ela é tão quietinha... Dorme praticamente o tempo todo e as enfermeiras é que a acordam para mamar. “Que bênção!” – pensava eu!
Aí você sai do hospital e vai para casa. Primeira noite: você espera que vai ser como era no hospital. Dá a mamada à meia-noite, põe o despertador para as 3 da madrugada, porque foi assim que te ensinaram. Mas, 01h30min, a babá eletrônica começa a emitir um som estridente na sua orelha. Você demora pra perceber onde está, o que está acontecendo e lembra: “Ah!! Agora eu tenho um bebê!”. Corre pro quarto dela, olha fralda. Está ok. Barriga dura de cólica? Não. Barriga molinha. Tudo certo! Ah! Pode ser fome! Você põe o baby no peito, ela bate cabeça, pra frente, pra trás, se espreme, e, de repente, aquela golfada! O líquido branco, que cheira a coalhada, derrama nela, em você. “Ah! Tudo bem! Depois eu limpo”, você pensa. “O importante é saber por que ela está assim!”. E de repente, 40 minutos depois, como num passe de mágica, ela dorme.
São 3 da manhã. Você volta pra cama, o peito vazando leite, aquele cheiro de coalhada e pensa: “Ah, vou me limpar, porque ninguém merece o marido dormir ao lado de alguém assim!”. Olha pra cama, pensa que daqui há 1 hora o despertador vai tocar, e resolve dormir assim mesmo.
E assim, nessa rotina, passa o 1 mês de vida da sua filha.
E você percebe que atividades antes essenciais, agora viram supérfluas: “escovar os dentes logo que acorda?” Ah! Pra que?; “tomar banho após tomar uma golfada?” Dá uma limpadinha de leve, porque tem mil coisas pra fazer no intervalo das mamadas; “tirar a camisola quando acorda?” Pra que se você vai colocá-la a noite antes de dormir?; “passar um perfume pra receber o marido quando ele chega do trabalho?”ah vá! Seu perfume natural passa a ser “Eau de leitè” ; “sexo?!” Nesses primeiros 40 dias, esqueça! Ou você se imagina de cinta-liga, super sexy, chicotinho na mão, mas com um soutien de amamentar que você não pode tirar porque vaza leite?! Além disso, imagine qual a sua disposição pra isso, depois de uma noite toda sem dormir ou pensando que a qualquer minuto virá um choro do outro quarto clamando por comida?!
Finalmente meninas, eu descobri para que serve a quarentena! Serve para você, sem culpa nenhuma, durante 40 dias, deixar de ser esposa, mulher, pessoa, para virar mãe! O maior e mais abençoado dom concedido a uma mulher!
E uma dica: faça o papai participar. Ele pode não ficar tão cansado como você, mas, se entrar no clima, com certeza vai entender esse período, te ajudar e não te cobrar absolutamente nada!